Retrospectiva do esporte paralímpico: atletismo e judô lideram temporada histórica no primeiro ano do ciclo rumo a Los Angeles 2028


O esporte paralímpico brasileiro viveu em 2025 uma de suas temporadas mais marcantes da história recente. Primeiro ano do ciclo que culminará nos Jogos Paralímpicos de Los Angeles, em 2028, o período foi recheado de conquistas expressivas, resultados inéditos em Campeonatos Mundiais e afirmação de atletas que despontam como protagonistas internacionais. Modalidades como atletismo e judô se destacaram de forma especial, levando o Brasil ao topo do quadro de medalhas e consolidando o país como uma das grandes potências do paradesporto mundial.

Ao longo do ano, atletas brasileiros brilharam em competições realizadas na Ásia, Europa e Américas, alcançando feitos históricos e quebrando paradigmas, como a quebra da hegemonia chinesa no atletismo paralímpico. Ao mesmo tempo, o calendário também foi marcado por desafios fora das arenas esportivas, especialmente nos bastidores do tênis de mesa paralímpico, que expôs tensões entre atletas e a Confederação Brasileira de Tênis de Mesa (CBTM) em relação às regras do programa Bolsa Atleta.

Início da temporada traz otimismo e destaque nos esportes de inverno

A temporada 2025 começou com sinais claros de otimismo para o paradesporto nacional. Em fevereiro, o rondoniense Cristian Ribera conquistou um feito inédito ao se tornar campeão mundial de esqui cross country, na prova de sprint de um quilômetro, durante o Mundial realizado em Trondheim, na Noruega. O resultado colocou o atleta entre as principais esperanças de medalha do Brasil para a Paralimpíada de Inverno, que acontecerá em março de 2026, nas cidades italianas de Milão e Cortina d’Ampezzo.

A conquista reforçou o crescimento da participação brasileira em esportes de inverno paralímpicos, tradicionalmente dominados por países do hemisfério norte, e abriu novas perspectivas para o ciclo paralímpico.

Tênis em cadeira de rodas vive ano histórico

Outro grande destaque da temporada foi o tênis em cadeira de rodas. Na Copa do Mundo da modalidade, disputada em maio, na cidade de Antalya, na Turquia, a seleção brasileira da classe quad — destinada a atletas com limitações em ao menos três membros — chegou à final pela primeira vez na história. O Brasil conquistou a medalha de prata após ser superado pela forte equipe da Holanda, resultado considerado histórico para a modalidade no país.

Na categoria júnior, o Brasil também teve desempenho expressivo, alcançando as semifinais e terminando a competição na quarta colocação. Os mineiros Vitória Miranda e Luiz Calixto tiveram participação fundamental nessa campanha e consolidaram seus nomes como grandes promessas do esporte paralímpico nacional.

Ambos também brilharam nos principais torneios do circuito internacional. Vitória Miranda foi campeã de simples e duplas femininas — ao lado da belga Luna Gryp — no Aberto da Austrália e em Roland Garros, na França. Já Luiz Calixto conquistou o título de duplas masculinas no Grand Slam australiano, jogando ao lado do norte-americano Charlie Cooper. O ano marcou a despedida dos dois atletas da categoria júnior, deixando um legado expressivo e grandes expectativas para suas carreiras no circuito adulto.

Judô paralímpico domina Mundial no Cazaquistão

Assim como no tênis em cadeira de rodas, o judô paralímpico brasileiro viveu um momento histórico. O Campeonato Mundial da modalidade foi disputado em maio, na cidade de Astana, no Cazaquistão, e terminou com o Brasil liderando o quadro de medalhas de forma inédita.

Ao todo, a seleção brasileira subiu ao pódio 13 vezes, conquistando cinco medalhas de ouro e superando tradicionais potências do judô paralímpico. O evento consagrou nomes já conhecidos e revelou novos talentos.

Entre os destaques esteve a paulista Alana Maldonado, que se tornou tricampeã mundial na categoria até 70 quilos da classe J2, destinada a atletas com baixa visão. Outro nome de peso foi o paraibano Wilians Araújo, que conquistou o bicampeonato mundial na categoria acima de 95 quilos da classe J1, para atletas cegos totais.

O Mundial também foi marcado por uma final 100% brasileira na categoria acima de 70 quilos da classe J2, vencida por Rebeca Silva sobre a também paulista Meg Emmerich. Além disso, o Brasil celebrou conquistas inéditas, como os ouros da carioca Brenda Freitas, na categoria até 70 quilos, e da potiguar Rosi Andrade, na categoria até 52 quilos, ambas na classe J1.

Canoagem e ciclismo mantêm regularidade no cenário internacional

No Mundial de canoagem paralímpica, realizado em Milão, na Itália, o sul-mato-grossense Fernando Rufino foi o grande nome brasileiro. Ele conquistou a medalha de ouro nos 200 metros da classe VL2, destinada a atletas que utilizam tronco e braços na remada. O resultado repetiu a dobradinha brasileira vista na final dos Jogos Paralímpicos de Paris 2024, com o paranaense Igor Tofalini ficando com a prata. No total, o Brasil encerrou a competição com cinco medalhas.

Desempenho semelhante foi registrado no Mundial de ciclismo de estrada, disputado em Ronce, na Bélgica, em agosto. O paulista Lauro Chaman garantiu o tricampeonato mundial na prova de resistência da classe C5, destinada a atletas com deficiências moderadas nos membros superiores, reforçando sua posição entre os principais nomes da modalidade no mundo.

Já no Mundial de ciclismo de pista, realizado em outubro, no Velódromo do Rio de Janeiro, a equipe brasileira conquistou nove medalhas. O grande destaque foi a paulista Sabrina Custódia, que venceu o contrarrelógio de um quilômetro da classe C2, estabelecendo um novo recorde mundial.

Natação tem campanha sólida em Singapura

Em setembro, foi a vez do Mundial de natação paralímpica, realizado em Singapura. A disputa pelo topo do quadro de medalhas foi equilibrada, com a Itália terminando na liderança, com 18 ouros. O Brasil ficou na sexta colocação geral, mas apresentou números expressivos: 13 medalhas de ouro e 39 pódios no total.

Os grandes nomes da equipe brasileira foram o mineiro Gabriel Araújo, conhecido como Gabrielzinho, da classe S2, e a pernambucana Carol Santiago, da classe S12. Ambos conquistaram três medalhas de ouro cada e confirmaram o protagonismo do Brasil na modalidade.

Atletismo quebra hegemonia chinesa e faz história na Índia

O ponto alto da temporada paralímpica brasileira veio em outubro, no Mundial de atletismo realizado em Nova Déli, na Índia. Pela primeira vez na história, o Brasil terminou a competição no topo do quadro de medalhas, com 15 ouros, 20 pratas e nove bronzes, superando a China.

O feito foi ainda mais significativo por encerrar uma hegemonia histórica. Nas três edições anteriores do Mundial, os brasileiros haviam terminado na segunda colocação, sempre atrás dos chineses. Foi apenas a segunda vez que a China não liderou o quadro geral na história da competição.

Entre os destaques individuais, a acreana Jerusa Geber foi a grande estrela. Ela conquistou dois ouros e se tornou tetracampeã mundial dos 100 metros rasos da classe T11, para atletas cegos totais. Com isso, Jerusa alcançou 13 medalhas em Mundiais — sete ouros, cinco pratas e um bronze — superando a marca histórica da mineira Terezinha Guilhermina, que tinha 12 pódios na mesma categoria.

Halterofilismo feminino também sobe ao topo

Ainda em outubro, a seleção feminina de halterofilismo paralímpico fez história no Mundial disputado no Cairo, no Egito. O Brasil conquistou a medalha de ouro por equipes, com as atletas Tayana Medeiros, Lara Lima e Mariana d’Andrea.

Além do título coletivo, as brasileiras também subiram ao pódio nas disputas individuais. Mariana d’Andrea ficou com a prata na categoria até 73 quilos, Tayana Medeiros foi vice-campeã na categoria até 86 quilos, e Lara Lima conquistou o bronze entre as atletas até 41 quilos.

Bastidores do tênis de mesa expõem crise institucional

Apesar de o Mundial de tênis de mesa paralímpico estar previsto apenas para 2026, a modalidade esteve no centro das atenções em 2025 por conta de uma crise nos bastidores. Em julho, um grupo de nove atletas — que juntos somam 16 medalhas paralímpicas — enviou um ofício ao Ministério do Esporte manifestando insatisfação com a Confederação Brasileira de Tênis de Mesa.

Entre as principais reclamações estava a exigência de que os atletas investissem entre 30% e 60% do valor recebido pelo Bolsa-Pódio, principal categoria do programa Bolsa Atleta, para custear participações em competições internacionais. Além disso, a CBTM condicionava a aprovação do planejamento esportivo à participação mínima em dez eventos fora do país.

No documento, os atletas pediram intervenção na confederação, reconhecimento da excelência esportiva com base em resultados — e não apenas no número de competições disputadas — e maior transparência na definição de critérios técnicos. Em resposta, o Ministério do Esporte informou que não há previsão normativa no Bolsa Atleta para as exigências impostas pela CBTM.

Diante da repercussão, a confederação revogou a medida, mas o clima de insatisfação permanece, evidenciando desafios institucionais que ainda precisam ser superados para garantir estabilidade e apoio adequado aos atletas.

Perspectivas para o ciclo até Los Angeles 2028

A temporada 2025 deixa um legado de conquistas, recordes e afirmação do Brasil como potência paralímpica global. Com resultados expressivos em diversas modalidades e atletas em plena ascensão, o país inicia o ciclo rumo aos Jogos Paralímpicos de Los Angeles 2028 com confiança e grandes expectativas.

Ao mesmo tempo, os episódios fora das pistas, piscinas e tatames reforçam a importância de uma gestão transparente e alinhada aos interesses dos atletas, garantindo que o desempenho esportivo continue sendo o principal critério de excelência no esporte paralímpico brasileiro.

Enviar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem